Escolher o solo certo para seus cactos é um dos fatores mais importantes para garantir que suas plantas cresçam saudáveis e vigorosas. É também fruto de diversas histórias tristes de lindas plantas que acabaram apodrecendo.
Todas as plantas têm necessidades específicas, mas os cactos talvez sejam um pouco mais exigentes nessa questão. O desenvolvimento dos cactos pode ser seriamente comprometido se suas necessidades não sejam atendidas.
Mas a família das cactáceas não é simples e nem pequena. Temos espécies adaptadas aos climas mais desérticos, como no caso dos gêneros Copiapoa, Lophophora, e Aztekium. E temos as espécies epífitas (que crescem em troncos de árvores) de matas úmidas dos gêneros Rhipsalis, Disocactus, e Epiphyllum. Suas necessidades de substrato também serão distintas.
Neste artigo, iremos explorar os conceitos que justificam as escolhas dos componentes que fazem um substrato ideal. Assim, você poderá decidir e preparar misturas ideais para diferentes necessidades de cactáceas.
I. Entendendo as necessidades de solo dos cactos
Para que os cactos cresçam de forma saudável, é necessário entender suas necessidades específicas de solo. Por isso, escolhi dividir as cactáceas em 3 grandes grupos, baseado nas suas necessidades de água, drenagem, e composição do solo.
Atenção: Essa é uma simplificação didática. A família das cactáceas está presente em toda a América, do Canadá à Argentina, nos mais diferentes ambientes. Tem cacto na praia, na montanha, na floresta, na catinga, no campo, no deserto… Então não tem receita de bolo.
É bem comum produtores e colecionadores comprarem solo pronto para cactos e ainda assim dar uma complementada dependendo da espécie que vai recebê-lo.
II. Solo para cactos xerófitos
Os cactos xerófitos são aqueles adaptados para sobreviver em ambientes extremamente secos, como desertos e regiões áridas.
Eles possuem diversas adaptações morfológicas (características anatômicas) e fisiológicas (funções vitais, metabolismo) que lhes permitem minimizar a perda de água e maximizar a absorção e armazenamento desse recurso vital.
Alguns possuem raízes extensas e superficiais, como é o caso do Saguaro (Carnegia gigantea). Apesar de sua altura, que pode chegar a 12 metros, suas raízes chegam a apenas 30 centímetros de profundidade! Isso permite a rápida absorção de água durante as raras chuvas.
Outros, como os Ariocarpus, desenvolvem raízes grossas e profundas, vezes maiores do que a parte da planta que fica pra fora da terra. E isso também é uma adaptação às condições severas de seca do ambiente em que vivem, já que assim mantém uma reserva subterrânea de água.
O que todos os cactos desérticos tem em comum é um crescimento muito, muito lento.
1. Drenagem: Excelente
A drenagem é a característica mais crucial para o solo de cactos xerófitos. Em seus habitats naturais, a água da chuva se infiltra rapidamente no solo arenoso ou rochoso, deixando pouca ou nenhuma umidade na superfície. Queremos replicar essa condição.
Utilize uma mistura de solo que inclua uma alta proporção de areia grossa ou perlita. Estes materiais ajudam a criar espaços grandes entre as partículas do solo, permitindo que a água escorra rapidamente.
No fundo do vaso, adicione uma camada de pedras pequenas ou cascalho para melhorar ainda mais a drenagem. Isso garante que a água não se acumule nas raízes.
Materiais como perlita e pedra-pomes não só ajudam na drenagem, mas também mantêm o solo aerado.
2. Retenção de Umidade: Baixa
Os cactos xerófitos são altamente eficientes na conservação de água e não toleram solos que retêm umidade por longos períodos. Solos que permanecem úmidos podem causar apodrecimento das raízes e outras doenças fúngicas.
3. Nutrientes: Pouco
Ao contrário de muitas outras plantas, os cactos xerófitos não requerem solos ricos em nutrientes. Eles são adaptados a crescer em solos pobres, onde os nutrientes estão disponíveis em quantidades limitadas.
Use uma quantidade mínima de matéria orgânica na mistura de solo. Excesso de matéria orgânica pode reter umidade e não é ideal para cactos xerófitos.
Evite fertilizar com muita frequência, ainda mais se você utilizar adubo de liberação lenta.
III. Solo para cactos Mesófitos
Os cactos mesófitos são aqueles que crescem em ambientes com uma disponibilidade moderada de água. O meio termo.
Eles são encontrados em regiões semiáridas. Mais água disponível do que nos desertos, mas ainda com períodos de seca.
Esses cactos possuem adaptações tanto para armazenar água quanto para evitar a perda excessiva, mas não de forma tão extrema quanto os xerófitos.
Suas raízes são adaptadas para explorar a umidade disponível no solo, e seus caules também podem ser suculentos, mas nem sempre tanto quanto os dos xerófitos.
Lembrete: estes cactos ainda são considerados plantas xerófitas!
Exemplos de cactos mesófitos são o Cactos amendoim (Echinopsis chamaecereus) e o popular Rabo de Macaco (Hildewintera winteri).
1. Drenagem: Boa
Cactos mesófitos precisam de solo que permita a rápida saída do excesso de água. Isso evita que as raízes fiquem encharcadas, o que pode levar ao apodrecimento.
A presença de perlita ou vermiculita na mistura assegura que o solo permaneça arejado, permitindo que as raízes respirem e cresçam de forma saudável.
2. Retenção de umidade: Moderada
Embora necessitem de drenagem eficiente, esses cactos também se beneficiam de uma leve retenção de umidade, garantida pela matéria orgânica presente na mistura. Isso permite que o solo mantenha a umidade suficiente entre as regas, mas não o suficiente para estimular o crescimento de fungos.
3. Nutrientes: Um pouco mais
A matéria orgânica aqui já é mais bem-vinda. Mas não exagere, ou seu cacto pode rachar nas chuvas e até mesmo apodrecer.
Utilizar fertilizantes específicos para cactos durante a temporada de crescimento (primavera e verão) ajuda a fornecer os nutrientes necessários que o solo pode não oferecer em quantidade suficiente.
IV. Solo para cactos Higrófitos
Os cactos higrófitos são aqueles adaptados para viver em ambientes com alta disponibilidade de água, como florestas tropicais e subtropicais.
Ao contrário dos xerófitos e mesófitos, esses cactos não possuem grandes necessidades de armazenamento de água devido à constante disponibilidade de umidade em seu habitat.
Eles geralmente possuem raízes mais finas e extensas para aproveitar a umidade do solo e podem ter caules mais finos e menos suculentos.
Os cactos higrófitos também podem tolerar mais sombra e temperaturas mais constantes. Exemplos incluem o Cacto Dama-da-noite (Epiphyllum oxypetalum) e o Cacto Macarrão (Rhipsalis cereuscula), que frequentemente crescem como epífitas em árvores, absorvendo a umidade do ambiente ao seu redor.
1. Drenagem: Moderada
Esses cactos precisam de solo que retém uma quantidade considerável de umidade, sem, no entanto, ficar encharcado. A matéria orgânica é fundamental para manter essa umidade.
Embora precisem de umidade, a drenagem continua sendo crucial para evitar o apodrecimento das raízes. A perlita ou vermiculita na mistura ajuda a garantir que o excesso de água escoe adequadamente.
2. Retenção de umidade: Boa
São cactos que tem sede. Se o solo não tiver uma boa retenção de umidade, a frequência das regas deve aumentar.
3. Nutrientes:
Cactos higrófitos se beneficiam de solos ricos em nutrientes, fornecidos pela matéria orgânica. A decomposição lenta de componentes como casca de pinus ou fibra de coco também contribui para a nutrição contínua das plantas.
Adubos de liberação lenta são muito bem-vindos, entregando nutrientes aos poucos, em cada rega.
Conclusão
Escolher o solo certo para cada tipo de cacto é essencial para garantir o crescimento saudável e vigoroso dessas plantas.
Como vimos, cactos de diferentes habitats — xerófitos, mesófitos e higrófitos — possuem necessidades de solo distintas que refletem suas adaptações às condições ambientais de seus locais de origem.
Os cactos xerófitos, adaptados a ambientes extremamente secos, necessitam de solos com excelente drenagem e baixa retenção de umidade, com poucos nutrientes.
Já os cactos mesófitos, que habitam regiões semiáridas, se beneficiam de solos com boa drenagem e retenção moderada de umidade, além de um pouco mais de nutrientes.
Por fim, os cactos higrófitos, adaptados a ambientes úmidos como florestas tropicais, requerem solos ricos em matéria orgânica, que retêm bem a umidade sem ficarem encharcados.
Compreender essas diferenças e adaptar o solo de acordo com as necessidades específicas de cada grupo de cactos é a chave para evitar problemas comuns, como o apodrecimento das raízes, e para promover o desenvolvimento pleno das plantas.